Habitações Ruca / Undurraga Devés Arquitectos

Habitações Ruca / Undurraga Devés Arquitectos - Mais Imagens+ 15

  • Arquitetos: Undurraga Devés Arquitectos; Undurraga Devés Arquitectos
  • Área Área deste projeto de arquitetura Área:  1537
  • Ano Ano de conclusão deste projeto de arquitetura Ano:  2011
  • Fotógrafo
    Fotografias:Pilar Undurraga
  • Ingeniero Calculista : José Jiménez- Rafael Gatica Ingenieros
  • Empresa Constructora: EBCO Constructora
  • Arquitecto A Cargo: Cristián Undurraga
  • Equipo De Proyecto: Raimundo Salgado Salas
  • Cidade: Santiago
  • País: Chile
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© Pilar Undurraga

“Dentro do nosso continente, ainda existem povos verdadeiramente americanos. São os últimos representantes daqueles homens que, através de milênios, povoaram este continente, conquistaram selvas, desertos, longas praias e as alturas imensuráveis das montanhas. Na luta destes homens pela sobrevivência, desenvolveram uma cabal compreensão e entendimento dos distintos territórios que habitaram, seu clima, flora e fauna. alguns domesticaram plantas e animais desenvolvendo complexas economias agro pecuárias, que as vezes alcançaram organizações de tipo estatal. Outras mais isoladas e, quiça menos exigidas pelo meio que habitam, mantiveram por um longo tempo suas economias baseadas na caça e coleta.

Axonométrica Cortada

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A invasão europeia foi tão forte e seus efeitos tão drásticos que em menos de um século já havia mudado por completo a face étnica deste continente. Hoje, os verdadeiros americanos são minorias dentro dos países da América. A sociedade em geral, em grande parte mestiça, adotou formas culturais acidentais e cristãs. Como um todo, é complicada, para não dizer coisa pior, a convivência destas minorias étnicas dentro da sociedade, por conflitos de interesses. Assim estas sociedades se encontram deslocadas para posições diminuídas, ocupando quase sempre terras de péssima qualdiade ou de baixíssimo valor, com problemas econômicos, sanitários e oq eu é pior, com um grave índice de deterioramento cultural devido ao fato de que lhes são impostos valores e modos de vida distantes aos seus sistemas tradicionais”.[1]

A cidade, até onde tem migrado em busca de um melhor destino, lhes tem sido hostil. É que a cidade, particularmente a mega-cidade, no trânsito forçado para um mundo globalizado, tem desdenhado as culturas locais e nelas, os povos originais tem levado a pior parte.

Cortesia de Undurraga Devés Arquitectos

O desafio que temos como sociedade é conciliar aqueles aspectos nos quais a globalização trouxe progresso para a humanidade, com aqueles valores das culturas que nos precederam e que hoje lutam por manter viva sua identidade. dentro deste difícil contexto se inclúi o projeto que mostramos na sequência.

Trata-se de um conjunto de 25 habitações para a comunidade Mapuche, em Huechuraba, na periferia norte da cidade de Santiago. O projeto se insere dentro de um conjunto maior composto por 415 habitações de interesse social tradicionais. Estas se encontram dentro da política habitacional do "Fundo Solidário de Habitação" impulsionado pelo Ministério da Habitação e Urbanismo com a colaboração do Município local e a organização privada de gestão social "Um Teto para Chile". Além disso, no caso específico das habitações Mapuches, contou-se com a cooperação da Coorporação Nacional de Desenvolvimento Indígena.

Esta iniciativa surgiu de uma pequena comunidade Mapuche que, dispostos a participar da sociedade moderna, queriam que isso não significasse um enfraquecimento das suas tradições e crenças ancestrais.

Fachada Frontal

Mapuche significa em espanhol "homem da terra". Eles originalmente habitaram o centro-sul do país onde, em uma relação harmônica com a natureza, desenvolveram fundamentalmente a agricultura. A diferença de outras culturas pré colombianas como as do centro-norte dos Andes ou as da Meso-América, os Mapuches não foram construtores em um sentido tradicional. Seus espaços sagrados não foram os tempos, mas sim as montanhas, os bosques e os rios... Suas residências, las rukas foram, e em muitos casos ainda seguem sendo, espaços transitórios formados por estruturas leves de ramos e troncos. Estas casas, confundidas com a paisagem, se degradam com o tempo para retornar à terra acompanhando o tempo circular da natureza. Tudo citado anteriormente basta para entender o esforço envolvido para a adaptação da cultura Mapuche à realidade urbana contemporânea...

O desenho deste projeto foi produto de um trabalho participativo entre a comunidade, os arquitetos e as instituições patrocinadoras. Nestes parlamentos, que ocorriam em uma ruka, nos ensinaram sua história, suas tradições e sua cosmo-visão: o Az Mapu. Nele estão contidos os princípios que estabelecem as relações entre os Mapuches e o mundo visível e invisível: o mundo territorial, político, social, cultural e religioso.

Cortesia de Undurraga Devés Arquitectos

Huechuraba - nome Mapuche que significa lugar onde nasce a argila, é a comuna (região da cidade) onde se insere o projeto. Se localiza na periferia norte de Santiago e sua origem urbana se remonta aos primeiros acampamentos informais neste setor da cidade, surgidos na década de 60. Uma eficaz política de saneamento, sustentada ao longo do tempo, deu origem a uma cidade ainda sim precária onde a necessidade de solo para habitação não deixa lugar para o espaço urbano. Mas ainda, no cheio tecido urbano de casas, a geografia de cerros, tão característica de Santiago, se impõe sobre a pele de tetos de lata que não ultrapassam os dois andares de altura. Ali, ao pé desses cerros, localizamos estas 25 habitações de modo que pudessem estar o mais próximas possível da natureza.

Por tratar-se de um projeto social que se beneficiava do subsídio concedido pelo Ministério de Habitação e Urbanismo, seu projeto devia, necessariamente se enquadrar ao rigoroso conjunto de normas que a instituição exige deste tipo de casas. O manual, centrado em aspectos técnicos e de habitabilidade, não considerava as singularidades e os aspectos culturais como os que demandava a comunidade Mapuche.

Emplazamiento

Entremos em cheio no projeto. As casas se agruparam de forma contínua sobre uma cota horizontal permitindo com isso que a longitude da fachada principal ficasse voltada para o leste. Esta disposição, obrigada pela tradição ancestral der abrir a porta principal da casa para o sol nascente foi a principal exigência que pediu a comunidade. entre as casas e o cerro foi mantido um espaço comum, análogo ao espaço urbano tradicional. A partir deste local se acessa as residências. A construção contínua do conjunto não excluiu a expressão individual de cada casa, fazendo-se eco das rukas que se revelam isoladas na paisagem.

Como técnica construtiva se usou a tradição artesanal de tijolo e marco de concreto armado, expressando a correspondência entre aparência e natureza estrutural do projeto. A diagonal de madeira de pinus impregnada, que caracteriza a fachada principal e posterior é um elemento estrutural que tem como missão fixar os muros laterais em caso de abalos sísmicos. Uma camada dupla de cañada de coligüe (rügi), cobre as divisórias e as janelas destas fachadas. A mínima separação entre as varas permite a passagem de luz filtrada para o interior ao mesmo tempo que resolve a tradição que inspira o projeto.

Planta Baixa Pavimento Térreo

A casa de 61 metros quadrados se desenvolve em duas plantas. A interna é o programa simples: na planta baixa se localiza a zona de estar e a cozinha. Este último recinto é mais amplo que o das casas sociais análogas em consideração à importância do "fogón" (cozinha) dentro da tradição Mapuche. No piso superior se encontram os quartos e o banheiro. O interior foi entregue como uma habitação bruta permitindo a cada família fazer os acabamentos segundo seus meios e gostos. Apesar do convencional programa e da neutralidade dos recintos, (produto da normativa ministerial), a luz tênue e fragmentada no interior das casas evoca uma atmosfera que nos remete à penumbra das rukas, dando lugar a um tempo próprio, diferente ao que ocorre no exterior, na cidade. Esta estratégia também definiu de maneira nítida o interior e exterior, mundos opostos na tradição Mapuche, diferente da tradição moderna na qual estamos imersos, onde o interior e a paisagem se integram continuamente.

© Pilar Undurraga

O interior foi entregue como uma habitação bruta permitindo a cada família fazer os acabamentos segundo seus meios e gostos.

Nosso trabalho, mais do que a de arquitetos, foi a de fazer uma ponte entre os sonhos Mapuches e a realidade possível... O caminho percorrido nos levaria necessariamente para a mixegenação entre duas culturas... Essa é, de qualquer maneira, a história da nossa América...

  Cristian Undurraga.

© Guy Wenborne

[1] [1]Carlos Aldunate del Solar. Cultura Mapuche. Serie Patrimonio Cultural Chileno. Colección culturas aborígenes. Introducción, Pág. 9. Ed. Ministerio de educación, 1986.

Galeria do Projeto

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Localização do Projeto

Endereço:La Pincoya, Huechuraba, Região Metropolitana de Santiago, Chile

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Localização aproximada, pode indicar cidade/país e não necessariamente o endereço exato.
Sobre este escritório
Cita: "Habitações Ruca / Undurraga Devés Arquitectos" [Viviendas Ruca / Undurraga Devés Arquitectos] 01 Jan 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-165402/habitacoes-ruca-slash-undurraga-deves-arquitectos> ISSN 0719-8906

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